Definição de Cavalhadas
A cavalhada é uma celebração portuguesa tradicional que teve origem nos torneios medievais, onde os aristocratas exibiam em espetáculos públicos a sua destreza e valentia e frequentemente envolvia temas do período da Reconquista da Península Ibérica. Era um torneio que servia como exercício militar nos intervalos das guerras e onde nobres e guerreiros cultivavam a praxe da galanteria.
As cavalhadas recriam os torneios medievais e as batalhas entre cristãos e mouros, na maioria das vezes com enredo baseado no livro Carlos Magno e Os Doze Pares de França, uma coletânea de histórias fantásticas sobre esse rei. No Brasil, registram-se desde o século XVII e no município de Nova Lima, desde 1954 (A Cavalhada de São José Operário) e 1975 (A Cavalhada de São Jorge).
A Cavalhada de São Jorge
A Cavalhada de São Jorge de Nova Lima (MG) foi fundada em 1975 pelo saudoso Benedito Felício Carmélio (Bené Cabeça Leve) que chegou ao município vindo de Conceição do Mato Dentro, aonde lidava com animais e participava de congados. Aqui chegando conheceu a Festa de Nossa Senhora do Rosário e como gostava muito de cavalos criou a Cavalhada de São Jorge, isto porque, ele era devoto do Santo. A sua primeira apresentação se deu no adro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e suas manobras e embaixadas foram ensinadas ao Sr. Benedito Felício Carmélio pelos componentes da Cavalhada de Nossa Senhora de Nazareth de Morro Vermelho em Caeté (MG).
Nos anos seguintes após a sua primeira apresentação, a Cavalhada de São Jorge passou somente a acompanhar a procissão na Festa de Nossa do Rosário e começou a realizar as suas apresentações no antigo Campo do Canto do Rio, hoje Espaço Cultural. E até hoje acontecem no sábado e domingo mais próximos ao dia do santo que lhe empresta o nome, São Jorge, 23 de abril.
No sábado acontece uma espécie de Cotejo Processional, quando todos participantes buscam a bandeira do santo enfeitada por Dona Elvira, no Bairro do Matadouro, que há anos se dedica a esta tarefa e um mastro para fixá-la. A Cavalhada de São Jorge utiliza dois mastros (um que é erguido no sábado e outro no domingo) No Cortejo processional do sábado, são transportados o mastro que ostentará a flâmula maior do Santo, a grande flâmula do Santo, a imagem de São Jorge e a imagem de Nossa Senhora da Conceição. O mastro, flâmula e imagens são transportados em um carro de boi e carroças ornamentadas e conta com a participação de grupos de congados de Nova Lima e região, o grupo folclórico Raízes de Dona Maria da Luz 'im-memórian', cavaleiros e devotos de São Jorge. Uma mistura cultural interessante, mas todos os grupos culturais envolvidos são folclóricos e este mesma mistura, empresta a este cortejo processional uma beleza plástica comovente.
Saindo do Matadouro, o Cortejo segue em direção a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, aonde acontece a coroação do Imperador e da Imperatriz da Cavalhada de São Jorge, que assumem o papel de festeiros da Cavalhada. O ritual de coroação é o mesmo usado pelos grupos de Congado na Coroação de seus Reis Festeiros.
Uma vez coroados o Imperador e a Imperatriz da Cavalhada, estes se posicionam em uma charrete ornamentada e passam a fazer parte do cortejo que se dirige até o Espaço Cultural, local do Auto da Cavalhada para uma Missa Campal Sertaneja. Durante o trajeto, no Cortejo, os Grupos de Congados seguem alternando entre as carroças que transportam as imagens e a grande flâmula. O carro de boi com o mastro vai logo a frente dos cavaleiros, que acompanham o cortejo ostentando bandeiras alusivas a cavalhada. Muitos devotos conduzem nas mãos achotes iluminados com fogo de querosene, tornando o cortejo ainda mais belo.
Com a chegada do cortejo no Espaço Cultural, tem início ao desfile dos grupos e cavaleiros na arena e em seguida o levantamento do mastro que ostentará a grande flâmula. No momento do levantamento todos, inclusive o público prestigiador são convidados a ajudarem no levantamento do mastro pois tal ritual simboliza que somente a união de todos é capaz de elevar o espírito cristão.
Uma vez erguido o mastro e devidamente fixado ao solo com segurança, um show pirotécnico brilha nos céus do local do evento e vivas são dadas a São Jorge enquanto que aos pés do mastro, os grupos de congado e o grupo folclórico raízes se alternam entoando cantigos e danças em homenagem a São Jorge.
O mastro é uma peça importante nesta manifestação cultural, no caso da Cavalhada de São Jorge acontecem dois levantamentos de mastro com significados semelhantes em determinados aspectos, mas com detalhes mas distintas em outros. Neste primeiro levantamento, o mastro simboliza que está acontecendo a Festa da Cavalhada de São Jorge e também ele é o "elo", a ligação da terra com o céu.
Após o levantamento do mastro e das homenagens ao Santo, tem início a Missa Campal Sertaneja. No palco se providencia um altar e todos acompanham a missa até o final quando então ao término da mesma tem inicío a um show de música sertaneja raiz para entreter o público presente e movimentar as barraquinhas que também compoem a estrutura do evento.
No domingo é o dia do "Auto da Cavalhada de São Jorge" que acontece no Espaço Cultural no interior de uma arena cercada por mourões e arame liso. Na arena há o segundo mastro, o principal, deitado sobre dois cavaletes. Este mastro será utilizado para a fixação de uma segunda flâmula do Santo e para a Trança de Fitas, considerados o auge da dramatização.
Uma Coorporação Musical acompanha toda a dramatização e a embala tocando dobrados e no momento da trança de fitas no mastro uma valsa. A Banda fica posicionada no palco montado do lado de fora da arena, próximo a esta.
Rojões de vara conhecidos como "treme terra" são soltos a fim de sinalizar ao cavaleiros e ao público que terá início a apresentação da Cavalhada. A partir deste momentos os cavaleiros, partipantes da dramatização adentram a arena conduzindo na mão esquerda um bastão de luz (um dos fogos de artifício). Dois cavaleiros um Cristão e um Mouro conduzem a flâmula do Santo. A motivo pelo qual os cavaleiros entram com bastões luminosos é porque segundo a tradição esta batalhata teria acontecido à noite e na época medieval, os combatentes se utilizavam de tochas de fogo. São doze cavaleiros que participam da dramatização em uma referência aos doze pares de França. Os que reprentam os Mouros trajam uniformes vermelho, e os que representam os Cristãos, uniformes azuis. Há ainda entre estes um Embaixador Mouro e outro Embaixador Cristão.