Congados em Nova Lima - M.G.
O Congado em Nova Lima é uma manifestação folclórica e religiosa associada principalmente, aos festejos em louvor a Nossa Senhora do Rosário, fruto de diferentes fusões de crenças a que chamamos de sincretismo religioso, que se desenvolveu dentro de uma Irmandade formada por escravisados africanos e seus descendentes no século XVIII. Esses festejos são marcados pela sonoridade do tambor. que ressoa através do desempenho de grupos dançantes, sob a liderança de Capitães (mestres) e em cortejo a Reis e Rainhas.
O viajante e cientista inglês Richard Francis Burton visitou a então Congonhas de Sabará (Nova Lima) em 1867 e descreveu a apresentação de uma dança em frente a Casa Grande pelos escravisados utilizando tambores, entoando cântigos e havendo alguns entre eles, trajando vestes de Reis e Rainhas. As últimas referências em Nova Lima, sobre as festas dos Congados em louvor a Nossa Senhora do Rosário datam de 7 de outubro de 1921. Há outro registro em que esta manifestação foi suprimida em 27 de outubro de 1946, devido a abusos, segundo registros eclesiásticos.
Entretanto, esta bela manifestação da Cultura Popular, retorna com todo vigor nas décadas de 1950 e 1960 através de Adão Lucindo, José Firmino, Manuel Alves dos Santos, "Noventa", Narcízio, Osmar Martins, Olavo e José João.
Vale ressaltar que a comunidade católica comemora no dia 07 de outubro, o Dia de Nossa Senhora do Rosário. A festa em homenagem a Santa foi instituída pelo Papa Pio V no ano de 1571, para celebrar a vitória dos cristãos, após uma grande batalha, a de "Lepanto" contra os mouros. Nesta batalha escravizados foram cruciais na composição da marinha responsável por esta vitória, daí a origem da "Marujada" nos Congados, que vigora em Nova Lima.
O Congado em Nova Lima é uma magnífica manifestação da Cultura Popular Tradicional que acontece no último domingo do mês de outubro, que é o mês do Rosário. Trata-se de um encontro de Guardas de Congado locais e visitantes que acontece em frente a igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Atualmente temos somente duas Guardas de Congado na cidade, que infelizmente caminham para a extinção, sendo elas, a de Nossa Senhora do Rosário, comandada por Alberico e a de Nossa Senhora da Aparecida comandada pela capitã Mariazinha. Já chegaram a existir cinco Guardas em nosso município.
Os grupos de Nova Lima representam a "Marujada", uma alusão à batalha de Lepanto (outubro de 1571 - Golfo de Corinto) em que escravizados foram libertos após a vitória. Seus trajes, imitam ao dos militares com casquete, blusas finas, calças azuis e calçados brancos. Predomina o azul e as suas variações de cor. Os capitães e contra-mestres, geralmente usam espadas, que neste caso funcionam como instrumentos de regência das danças cênicas.
As Guardas sempre têm a frente a porta estandarte, conduzindo a flâmula alusiva à Santa padroeira, cujas gurpos são devotos. O Capitão regente e o Contra Mestre com a espada e o apito, os congadeiros com seus tambores, violas, sanfonas e desprovidos de instrumentos os dançantes com compassos simbólicos de combate e embaixadas. Por último seguem os Reis Congos, com capas, coroas e os cetros, este último um amuleto em que os fiéis de outros grupos pedem a benção e os Reis e Rainhas o fazem conduzindo o cetro, de mãos dadas com o devoto, em forma de cruz e no final o devoto beija o símbolo do poder de um Rei que não está na coroa da sua fronteira ou na capa da sua devoção, mas no cetro, que para os congadeiro simboliza o Reino da Glória.
O Congado não se resume somente a uma manifestação da Cultura Popular. Há requícios da história, intrigantes rituais e uma fé comovente e imensurável.
Durante todo o mês de outubro, a Igreja Católica comemora o mês de Nossa Senhora do Rosário em Nova Lima. Época mais esperada pelas Guardas de Congado da cidade, principalmente no último domingo, quando acontece o "Encontro de Guardas de Congado".
No sábado que antecede o dia do encontro, as Guardas locais hasteiam em um mastro a flâmula de Nossa Senhora do Rosário. Este ritual, serve, para avisar a comunidade que está acontecendo a festa em louvor à Santa e o mastro significa a ligação da terra com o céu.
No domingo, logo pela manhã, as Guardas locais, anfitriãs, se posicionam em frente a igreja de Nossa Senhora do Rosário para recepcionarem as Guardas visitantes, vindas de outras cidades do Estado. É comovente a confraternização entre as Guardas. Durante à chegada das visitantes, todos os componentes, sorridentes e tomados de fé, tocam seus instrumentos, brincam e dançam. A expressão que mais se ouve é "Salve Maria", geralmente seguida de um cumprimento de três toques de ombro a ombro. Reis e Rainhas saúdam a todos se dando as mãos com o cetro e fazendo o sinal da cruz. Os estantartes das Guardas são beijados com todo o respeito e repassado por cima das cabeças de quem os toca. Os tambores usados pelos congadeiros durante a festa, também chamados de adufes, é considerado pelos mesmos como um instrumento sagrado, pois para eles o seu som chama o espírito de Nossa Senhora, por esta razão também chamado de tambor de Nossa Senhora. Uma alusão aos antepassados escrevisados que chamavam as entidades ao som de atabaques.
Logo após a recepção, é servido um farto café às Guardas visitantes na sede da corporação musical Sagrado Coração de Jesus. Em seguida estes Grupos de Congados se dirigem a Igreja com a finalidade de louvar Nossa Senhora e visitar o templo. Ao saírem de dentro da Igreja o fazem andando de costas, tradição herdada dos antigos antepassados escravisados que jamais davam as costas ao sagrado.
As 11:30 horas, as Guardas se dirigem a Escola Municipal Emília de Lima para o almoço e logo na entrada entoam cântigos de agradecimento pela alimentação oferecida.
As 15:00 horas é chegado o momento da "Missa Conga", onde o preconceito contra o negro escravizado é retratado, quando as Guardas, ao subirem as escadas para entrarem na igreja, as portas são fechadas e os congadeiros do lado de fora começam a cantar pedindo a Nossa Senhora que abra as portas do Templo para o negro poder rezar, uma alusão aos antigos escravizados que eram impedidos de frequentarem as Igrejas dos brancos.